quinta-feira, 21 de março de 2013
A AUTOMATIZAÇÃO E A ESCASSEZ DE TRABALHO
Para alguns países, este panorama pode estar desconfortavelmente próximo. Sendo assim, o que é que as pessoas vão fazer se as máquinas puderem fazer todo (ou quase todo) o seu trabalho?
Neste momento, a substituição de mão-de-obra vai além da indústria. O exemplo mais mundano é aquele que iremos ver em todos os supermercados: os funcionários de caixa vão ser substituídos por uma única funcionária que irá monitorizar um conjunto de máquinas automáticas de “self-service” (embora, neste caso talvez, esta não seja uma automação no sentido exacto – o supermercado apenas recolocou parte do trabalho de fazer compras no cliente).
Se uma máquina pode cortar para metade o trabalho humano necessário, por que é que metade da força de trabalho se torna dispensável em vez de se empregá-la por metade do tempo? Por que não aproveitar a oportunidade da automação de reduzir a média de horas de trabalho por semana de 40 para 30 horas e, daí, para 20, e, depois, para 10, com cada um destes blocos de tempo de trabalho a serem contabilizados como posto de trabalho a tempo inteiro? Isto será possível se os ganhos obtidos com a automação não forem aproveitados maioritariamente pelos ricos e poderosos mas se forem sim justamente distribuídos.
A não haver uma distribuição justa, os próprios ricos sofrerão as consequências, porque chegará o tempo que não vão ter a quem vender os productos que fazem e depois tudo colapsa. Os ricos têm de aprender que há que manter os pobres com um nível de vida necessário para os fazer ainda mais ricos. É inevitável, caso contrário haverá um desastre nas bolsas mundiais e uma revolta onde os ricos não seriam poupados.
Só uma grande guerra poria fim a isso.
Para alguns países, este panorama pode estar desconfortavelmente próximo. Sendo assim, o que é que as pessoas vão fazer se as máquinas puderem fazer todo (ou quase todo) o seu trabalho?
Neste momento, a substituição de mão-de-obra vai além da indústria. O exemplo mais mundano é aquele que iremos ver em todos os supermercados: os funcionários de caixa vão ser substituídos por uma única funcionária que irá monitorizar um conjunto de máquinas automáticas de “self-service” (embora, neste caso talvez, esta não seja uma automação no sentido exacto – o supermercado apenas recolocou parte do trabalho de fazer compras no cliente).
Se uma máquina pode cortar para metade o trabalho humano necessário, por que é que metade da força de trabalho se torna dispensável em vez de se empregá-la por metade do tempo? Por que não aproveitar a oportunidade da automação de reduzir a média de horas de trabalho por semana de 40 para 30 horas e, daí, para 20, e, depois, para 10, com cada um destes blocos de tempo de trabalho a serem contabilizados como posto de trabalho a tempo inteiro? Isto será possível se os ganhos obtidos com a automação não forem aproveitados maioritariamente pelos ricos e poderosos mas se forem sim justamente distribuídos.
A não haver uma distribuição justa, os próprios ricos sofrerão as consequências, porque chegará o tempo que não vão ter a quem vender os productos que fazem e depois tudo colapsa. Os ricos têm de aprender que há que manter os pobres com um nível de vida necessário para os fazer ainda mais ricos. É inevitável, caso contrário haverá um desastre nas bolsas mundiais e uma revolta onde os ricos não seriam poupados.
Só uma grande guerra poria fim a isso.
AS PREOCUPAÇÕES JÁ COMEÇARAM.
CHIPRE VAI FICAR NA HISTÓRIA DO FIM DO EURO E QUEM SABE DA PRÓPRIA UNIÃO EUROPEIA.
A ALEMANHA PERMITIU QUE ISTO ACONTECESSE E OS RUSSO VÃO-SE APROVEITAR PORQUE TÊM INTERESSES NA ÀREA.
PARA VER E MEDITAR
CHIPRE VAI FICAR NA HISTÓRIA DO FIM DO EURO E QUEM SABE DA PRÓPRIA UNIÃO EUROPEIA.
A ALEMANHA PERMITIU QUE ISTO ACONTECESSE E OS RUSSO VÃO-SE APROVEITAR PORQUE TÊM INTERESSES NA ÀREA.
PARA VER E MEDITAR
«A Europa é governada por um bando de loucos» »
Comentário de Constança Cunha e Sá na TVI24
terça-feira, 19 de março de 2013
Reflexão: hoje, com o mundo "descoberto" e mais ou menos independente, sem o Império, sem a Índia, o Brasil ou África, reduzido a um território acanhado e pequeno, encastrado numa península Ibéria dominada pelo gigante espanhol, sem fuga, a velha nação lusa está exausta, humilhada e sujeita a ser tratada com menoridade e condescendência por uma Europa egoísta, obtusa, dirigida por alemães ríspidos e complexados, seguida de perto por holandeses calvinistas frios, finlandeses obreiros e ingratos, nórdicos organizados, ricos e incapazes de entender o sul. Franceses, italianos e espanhóis orgulhosos, mas endividados até ao osso, pouco podem opor. Os ingleses são ambíguos, interesseiros, jogm com um pé dentro e outro a tocar nos EUA. Os outros povos pouco contam, divididos na defesa do seu quintal, estigmatizados por uma história europeia que deixou marcas profundas.
Há dois dias Chipre mostrou-nos o que é a solidariedade da UE, a insustentável leveza da compreensão europeia esfuma-se com as crescentes dificuldades financeiras, da dívida soberana, que ameaçam o crescimento e estagnam a zona euro, incluindo a toda poderosa e industrial Alemanha.
Os tempos são de clivagem, a margem para o cinismo e a aparência nos mútuos interesses reduz-se à crueza da realidade nua e crua da "real politik".
Penso que a situação europeia e a crise interna estão a acelerar a história em Portugal. Aproxima-se vertiginosamente um momento de alta exigência, que raras vezes confrontou os portugueses.
Em quase nove séculos de história, a nação teve sempre uma rota de escape, uma caminho de fuga, de expansão, de renovação. na Idade Média foi o território oscilante conquistado aos mouros, depois foi a expansão para o Norte de África, a que se seguiu a conquista do oceano Atlântico e a construção do império na Índia e na costa ocidental de África. Após a restauração, foi a expansão e a consolidação do Brasil, depois a corrida à partilha de África no séc. XIX em que não ficamos de fora. Em 1974, o 25 de Abril desmembra uma ditadura, fecha o ciclo do império e pela mão de socialistas como Mário Soares, procuramos espaço vital na UE. Revelou-se, ao fim de quase 40 anos, uma faca de dois gumes. E o gume mais cortante está a sobrepor-se. Os portugueses abdicaram do esforço, abriram mão de sectores económicos e "venderam-se" aos QREN. Permitiram ser governados por gente fraca e oportunista, em roca de uma carteira mais ou menos recheada de euros e meios de pagamento para uma nova forma de vida consumista. Como país, desinvestiu-se nos transaccionáveis e optou-se pelos serviços, massa monetária em forma de crédito, dívida e pouco rigor financeiro. A mãe Europa trataria sempre de nós.
Pois Sábado percebeu-se que a mãe Europa é uma vaca velha, que não distribui "amor" e "amizade", porque é uma cabra muito egoísta, uma meera viciada em bem estar para alguns, em austeridade sem sentido para os mais fracos e menos aptos a manter contas em dia!
Sinto que esse momento importante se aproxima, um tempo de cruas definições, decisões rápidas e corajosas, que exigirá que os melhores dos melhores, os mais capazes dos capazes, os mais fortes dos fortes, os mais destemidos dos destemidos, os mais respeitosos da herança secular se assumam e se cheguem à frente.
Nesse momento que nos irá solicitar e pôr à prova, como nação e como povo, terá o mérito de separar as águas turvas do pântano actual, uma vez por todas - de um lado a água, de outro o lixo e a matéria putrefacta.
O país e os portugueses, esses, continuarão. Mas terão de ser os esclarecidos acima referidos a carregar a responsabilidade e o risco altíssimo de garantir que a nação e o povo continuam de cabeça levantada, com dignidade, amor próprio e independência.
Ser menorizado e tratado como inferior, estar amordaçado e sujeito a penhora, não é maneira de perseguir um futuro colectivo.
Por isso, a hora dos oportunistas cobardes e sem escrúpulos e sem ponta de vergonha aproxima-se. Não é a hora H, é a hora F, de FIM.
Que se ergam os nossos melhores, e que digam presente quando o momento os chamar.
Há dois dias Chipre mostrou-nos o que é a solidariedade da UE, a insustentável leveza da compreensão europeia esfuma-se com as crescentes dificuldades financeiras, da dívida soberana, que ameaçam o crescimento e estagnam a zona euro, incluindo a toda poderosa e industrial Alemanha.
Os tempos são de clivagem, a margem para o cinismo e a aparência nos mútuos interesses reduz-se à crueza da realidade nua e crua da "real politik".
Penso que a situação europeia e a crise interna estão a acelerar a história em Portugal. Aproxima-se vertiginosamente um momento de alta exigência, que raras vezes confrontou os portugueses.
Em quase nove séculos de história, a nação teve sempre uma rota de escape, uma caminho de fuga, de expansão, de renovação. na Idade Média foi o território oscilante conquistado aos mouros, depois foi a expansão para o Norte de África, a que se seguiu a conquista do oceano Atlântico e a construção do império na Índia e na costa ocidental de África. Após a restauração, foi a expansão e a consolidação do Brasil, depois a corrida à partilha de África no séc. XIX em que não ficamos de fora. Em 1974, o 25 de Abril desmembra uma ditadura, fecha o ciclo do império e pela mão de socialistas como Mário Soares, procuramos espaço vital na UE. Revelou-se, ao fim de quase 40 anos, uma faca de dois gumes. E o gume mais cortante está a sobrepor-se. Os portugueses abdicaram do esforço, abriram mão de sectores económicos e "venderam-se" aos QREN. Permitiram ser governados por gente fraca e oportunista, em roca de uma carteira mais ou menos recheada de euros e meios de pagamento para uma nova forma de vida consumista. Como país, desinvestiu-se nos transaccionáveis e optou-se pelos serviços, massa monetária em forma de crédito, dívida e pouco rigor financeiro. A mãe Europa trataria sempre de nós.
Pois Sábado percebeu-se que a mãe Europa é uma vaca velha, que não distribui "amor" e "amizade", porque é uma cabra muito egoísta, uma meera viciada em bem estar para alguns, em austeridade sem sentido para os mais fracos e menos aptos a manter contas em dia!
Sinto que esse momento importante se aproxima, um tempo de cruas definições, decisões rápidas e corajosas, que exigirá que os melhores dos melhores, os mais capazes dos capazes, os mais fortes dos fortes, os mais destemidos dos destemidos, os mais respeitosos da herança secular se assumam e se cheguem à frente.
Nesse momento que nos irá solicitar e pôr à prova, como nação e como povo, terá o mérito de separar as águas turvas do pântano actual, uma vez por todas - de um lado a água, de outro o lixo e a matéria putrefacta.
O país e os portugueses, esses, continuarão. Mas terão de ser os esclarecidos acima referidos a carregar a responsabilidade e o risco altíssimo de garantir que a nação e o povo continuam de cabeça levantada, com dignidade, amor próprio e independência.
Ser menorizado e tratado como inferior, estar amordaçado e sujeito a penhora, não é maneira de perseguir um futuro colectivo.
Por isso, a hora dos oportunistas cobardes e sem escrúpulos e sem ponta de vergonha aproxima-se. Não é a hora H, é a hora F, de FIM.
Que se ergam os nossos melhores, e que digam presente quando o momento os chamar.
Resgatar o resgate
(por Gustavo Cardoso, no Público)
O modelo está esgotado e precisa de ser refeito e isso só pode ser realizado com pessoas que o assumam, que conheçam porque falhou e que estejam dispostos a criar os seus futuros e não por quem se sinta mais confortável com o regresso ao passado, porque isso não vai acontecer.
A maioria das pessoas está a ficar farta de ouvir falar em crise porque está a vivê-la. Por isso, porque há-de alguém de querer ler coisas sobre a crise?
Um argumento possível reside na frase seguinte: o que pode motivar as pessoas em Portugal e no resto da Europa - sim, não estamos sozinhos, mas jávoltaremos a isto - é que um qualquer indício de solução seja apresentado.
No entanto, como essa solução não se materializará por intervenção divina, mas sim por acção dos homens, mulheres e crianças que habitam este território de mais de 500 milhões de individuos, resta a cada um de nós contribuir à sua maneira para encontrar as soluções. E este é um artigo sobre os primeiros passos para sair da crise a partir do contributo que posso dar, o contributo de um sociólogo formado gestor e que acha que há que compreender as razões da crise, para de seguida tomar opções e depois passar às soluções que, entretanto, foram sendo formuladas e experimentadas.
Em primeiro lugar deixem-me partilhar algo que decorre de ter participado, tal como centenas de milhares de portugueses, nas manifestações de 2 de Março: estou farto de estar sequestrado!
E é assim também que a maioria da população portuguesa (e também a europeia) se sente. Sequestrada pelas decisões políticas e económicas sobre as quais não possui controlo mas que se fazem sentir nas suas vidas.
Em segundo lugar, deixem-me partilhar uma análise sobre o momento que vivemos a partir do final de 2012, porque acho que o primeiro passo para abandonar este estado de crise passa por ajudar a União Europeia a sair do erro em que entrou, ou seja, resgatar o resgate, para salvar a Europa e, no caminho, salvar também Portugal.
Esta análise passa, assim, por assumirmos o evidente, ou seja, que em primeiro lugar os representantes da troika que nos visitam não contam para grande coisa pois estão ao nível de um embaixador (com todo o respeito pelas suas funções) quando se reúne com um líder de um dado país, pois a sua autonomia e capacidade limita-se às instruções que lhe foram dadas e qualquer mudança, inovação ou alteração implica ir perguntar à casa-mãe se ela dá licença para o fazer.
É, também, igualmente necessário assumir uma outra coisa que comporta algum desconforto, ou seja, que as instituições políticas e do sector financeiro europeu e nacional não sabem o que fazer e que, portanto, estão num processo de experimentação. Ou seja, estamos em desgoverno continental na Europa, onde quem lidera não sabe se o que tem feito leva ao que se pretende, ou se o que se passa tem algo a ver com as acções que se tomaram – estamos assim no campo do desconhecido e incerto (faço aqui nota que disse “instituições”e não governantes ou gestores, pois hána governação e gestão ainda pessoas que têm noção do desacerto em que nos encontramos e que tudo pode ainda acontecer entre a melhoria e o desastre).
Passemos ao nível das evidências que nos permitem argumentar que é necessário ajudar as instituições europeias a serem resgatadas. As instituições europeias e nacionais do campo da economia não são capazes de resolver a crise porque ainda não decidiram realizar um mea culpa e em definitivo assumir que a economia é – todas as economias são –cultura. Isto é, determinadas opções de práticas inseridas em processos de produção, consumo e troca de bens e serviços.
É a cultura que molda a economia. Quando há uma crise sistémica, há um sinal de uma crise cultural, de não sustentabilidade de certos valores como princípios orientadores do comportamento económico humano. Assim, apenas quando, e se, mudarem valores culturais fundamentais, podem emergir novas formas de organização económica e instituições para assegurar a sustentabilidade da evolução do sistema económico. A hipótese que aqui se partilha é a de que podemos estar num período desses, de transição histórica.
Chegados a este ponto, onde estão as evidências de erros de resgate e por que necessitamos nós de resgatar os que nos quiseram resgatar e que – não tendo aparentemente outra forma de lidar com o assunto – tentam ganhar tempo continuando a exercer o resgate de Portugal (sim estou a falar da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu).
Como tive ocasião de escrever no livro “Mudança e Rescaldo. As Culturas da Crise Económica”, poderia a União Europeia ter apoiado Portugal em alternativa ao resgate? A resposta é sim, poderia ter sido feito de outra maneira. Mas não foi.
Entretanto, as instituições europeias perceberam o erro e pela prática o próprio BCE o admitiu. O BCE poderia ter comprado os títulos portugueses, como fez poucos meses depois com a Itália e a Espanha, em igual situação, liderando uma intervenção que evitou o resgate em perspectiva. O resgate de Portugal mostra, assim, o erro cometido pela UE e como as perspectivas de cenários futuros sugeridas pelas agências de notação financeira e postas em prática pelas instituições políticas e bancárias da União Europeia minaram a recuperação económica e a soberania política nacional.
O resgate de Portugal também mostra como a esfera política da União Europeia sucumbiu aos mercados financeiros desregulamentados. Mostra como o regresso da predominância da política sobre a finança parece cada vez mais difícil de alcançar, dentro do actual cenário.
É por tudo o que, atrás, foi exposto que o resgate tem de ser resgatado sob pena de todos sucumbirmos neste continente à impreparação que levou ao erro e à forma errada de raciocinar institucionalmente e que os últimos 4 anos demonstram ser inadaptada.
Não parece mais ser possível ninguém querer admitir erros e portanto preferir continuar em modo resgate, auto-sequestrando-nos pelas próprias instituições que não se reformam, nem se deixam revolucionar por via da inovação que ainda resta dentro delas, ou pela que se está a formar nas redes e nas praças públicas, à procura de caminhos para a supremacia da política.
Pode-se sempre argumentar que tudo isto não corresponde à realidade, que esta análise está errada, que tudo corre como devia correr e que as pessoas e as instituições reflectem isso. Eu contra-argumentaria que as instituições na Europa se encontram num estado de nervosismo intermitente, ora acham que tudo está a ir para o melhor, ora se sentem à beira do colapso quando uma qualquer variável política, económica ou social não segue o caminho expectável –pode ser o resultado de uma eleição, um comportamento dos mercados, um protesto mais veemente, uma actuação de um país externo, uma flutuação de uma moeda.
E as pessoas o que pensam disto tudo? Acreditando nos dados do último Eurobarómetro (e eu acredito na veracidade científica dos mesmos tal como o Eurostat e a Comissão Europeia acreditam) o que a seguir se descreve é a Europa e o Portugal onde hoje nos movimentamos - e o cenário não é agradável.
No final do ano passado, 80% dos cidadãos da União Europeia não confiavam nos partidos políticos e só33% confiava na União Europeia. Quanto à confiança na Comissão Europeia só40% dos cidadãos europeus manifestava confiança nela e, em média, na Europa (com excepção da Suécia, Finlândia e Luxemburgo) não há nenhum governo em que mais do que metade dos cidadãos confie –na realidade a média Europeia de confiança nos governos está em 27% dos cidadãos e em Portugal é de 22%. Por sua vez, o Banco Central Europeu tem apenas a confiança de 37% dos Europeus (na Alemanha 52% não confiam no BCE, um valor só superado pela desconfiança dos Espanhóis, Irlandeses ou Gregos).
Ao mesmo tempo 75% dos cidadãos da União classifica a situação económica da Europa como má ou muito má e 62% acha que o pior para o emprego está ainda para vir (variando entre os 59% da Alemanha, os 68% da França ou os 79% de Portugal) e quanto à avaliação da capacidade das actuais politicas em acção estarem no bom caminho, para nos fazer sair da crise, apenas 41% da população dos 27 países manifesta uma opinião positiva.
Se pensarmos que a Democracia é constituída a partir da assumpção de que "Eu" sou soberano e que delego temporariamente a minha soberania nos meus representantes, o TOP dos países onde mais de 50% dos cidadãos acha que "a sua voz não conta no seu país" - e que portanto onde delegar não vale a pena - leva-nos à seguinte conclusão sobre a zona euro: em todos os países com resgate informal e formal (à excepção da Irlanda onde só48% acha que não tem voz) mais de metade da população não acredita que seja ouvido pelos decisores políticos.
Na Europa há apenas 49% de cidadãos que se encontram satisfeitos com a democracia que têm, o que quer dizer que a sociedade europeia está dividida exactamente ao meio, polarizada entre duas visões (e tal varia entre os 70% de Alemães satisfeitos e os insatisfeitos que, por exemplo, são 74% dos Portugueses, 72% dos Italianos ou 66% dos Espanhóis).
Mas há também boas notícias, os cidadãos europeus parecem saber que caminho seguir para sair da crise. Pois 89% dos cidadãos está em acordo com a necessidade de introduzir mudanças, só que esse caminho parece não estar a ser praticado pelos governos e pela União. Senão vejamos, 90% dos cidadãos acha que os Estados devem trabalhar em conjunto, 81% acham que o défice público e a dívida devem ser reduzidos mas que, para a melhoria das economias europeias, se deve em primeiro lugar dar prioridade à melhoria da educação e formação profissional, facilitar a criação de empresas, aumentar a investigação científica e facilitar o crédito às empresas.
Os cidadãos da zona Euro apoiam a criação de Eurobonds na União Europeia, sendo a Bélgica o país mais a favor e a Alemanha o mais contra - os únicos países em que há mais de 50% de cidadãos contra são a Finlândia e a Alemanha, e o “não” ganha apenas com 47% na Áustria e na Estónia. Entre taxar as operações financeiras e taxar os lucros dos bancos, os cidadãos escolhem esta última com 81% de aprovação.
Se fosse pedido aos cidadãos para desenharem cinco políticas económicas para sairmos da crise eles responderiam pela seguinte ordem: modernização do mercado de emprego (81%); economia verde (74%); ajudas à indústria (72%); melhoria da qualidade do sistema de ensino superior (71%) e aumento das verbas de investigação científica (63%).
Por isso, o repto a todos nós (mesmo assumindo o perigo da análise) é assumir que as instituições que herdámos já não funcionam, pois só assim a crise pode ser ultrapassada.
As pessoas na Europa sabem-no, as populações dos países em resgate informal e formal sabem-no, as pessoas nas instituições de governo e financeiras sabem-no. O modelo está esgotado e precisa de ser refeito e isso só pode ser realizado com pessoas que o assumam, que conheçam porque falhou e que estejam dispostos a criar os seus futuros e não por quem se sinta mais confortável com o regresso ao passado, porque isso não vai acontecer.
O primeiro passo é mesmo resgatar o resgate, para se poder resgatar a economia e a política e agindo já para que tal possa ainda ser feito em democracia na Europa.
(por Gustavo Cardoso, no Público)
O modelo está esgotado e precisa de ser refeito e isso só pode ser realizado com pessoas que o assumam, que conheçam porque falhou e que estejam dispostos a criar os seus futuros e não por quem se sinta mais confortável com o regresso ao passado, porque isso não vai acontecer.
A maioria das pessoas está a ficar farta de ouvir falar em crise porque está a vivê-la. Por isso, porque há-de alguém de querer ler coisas sobre a crise?
Um argumento possível reside na frase seguinte: o que pode motivar as pessoas em Portugal e no resto da Europa - sim, não estamos sozinhos, mas jávoltaremos a isto - é que um qualquer indício de solução seja apresentado.
No entanto, como essa solução não se materializará por intervenção divina, mas sim por acção dos homens, mulheres e crianças que habitam este território de mais de 500 milhões de individuos, resta a cada um de nós contribuir à sua maneira para encontrar as soluções. E este é um artigo sobre os primeiros passos para sair da crise a partir do contributo que posso dar, o contributo de um sociólogo formado gestor e que acha que há que compreender as razões da crise, para de seguida tomar opções e depois passar às soluções que, entretanto, foram sendo formuladas e experimentadas.
Em primeiro lugar deixem-me partilhar algo que decorre de ter participado, tal como centenas de milhares de portugueses, nas manifestações de 2 de Março: estou farto de estar sequestrado!
E é assim também que a maioria da população portuguesa (e também a europeia) se sente. Sequestrada pelas decisões políticas e económicas sobre as quais não possui controlo mas que se fazem sentir nas suas vidas.
Em segundo lugar, deixem-me partilhar uma análise sobre o momento que vivemos a partir do final de 2012, porque acho que o primeiro passo para abandonar este estado de crise passa por ajudar a União Europeia a sair do erro em que entrou, ou seja, resgatar o resgate, para salvar a Europa e, no caminho, salvar também Portugal.
Esta análise passa, assim, por assumirmos o evidente, ou seja, que em primeiro lugar os representantes da troika que nos visitam não contam para grande coisa pois estão ao nível de um embaixador (com todo o respeito pelas suas funções) quando se reúne com um líder de um dado país, pois a sua autonomia e capacidade limita-se às instruções que lhe foram dadas e qualquer mudança, inovação ou alteração implica ir perguntar à casa-mãe se ela dá licença para o fazer.
É, também, igualmente necessário assumir uma outra coisa que comporta algum desconforto, ou seja, que as instituições políticas e do sector financeiro europeu e nacional não sabem o que fazer e que, portanto, estão num processo de experimentação. Ou seja, estamos em desgoverno continental na Europa, onde quem lidera não sabe se o que tem feito leva ao que se pretende, ou se o que se passa tem algo a ver com as acções que se tomaram – estamos assim no campo do desconhecido e incerto (faço aqui nota que disse “instituições”e não governantes ou gestores, pois hána governação e gestão ainda pessoas que têm noção do desacerto em que nos encontramos e que tudo pode ainda acontecer entre a melhoria e o desastre).
Passemos ao nível das evidências que nos permitem argumentar que é necessário ajudar as instituições europeias a serem resgatadas. As instituições europeias e nacionais do campo da economia não são capazes de resolver a crise porque ainda não decidiram realizar um mea culpa e em definitivo assumir que a economia é – todas as economias são –cultura. Isto é, determinadas opções de práticas inseridas em processos de produção, consumo e troca de bens e serviços.
É a cultura que molda a economia. Quando há uma crise sistémica, há um sinal de uma crise cultural, de não sustentabilidade de certos valores como princípios orientadores do comportamento económico humano. Assim, apenas quando, e se, mudarem valores culturais fundamentais, podem emergir novas formas de organização económica e instituições para assegurar a sustentabilidade da evolução do sistema económico. A hipótese que aqui se partilha é a de que podemos estar num período desses, de transição histórica.
Chegados a este ponto, onde estão as evidências de erros de resgate e por que necessitamos nós de resgatar os que nos quiseram resgatar e que – não tendo aparentemente outra forma de lidar com o assunto – tentam ganhar tempo continuando a exercer o resgate de Portugal (sim estou a falar da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu).
Como tive ocasião de escrever no livro “Mudança e Rescaldo. As Culturas da Crise Económica”, poderia a União Europeia ter apoiado Portugal em alternativa ao resgate? A resposta é sim, poderia ter sido feito de outra maneira. Mas não foi.
Entretanto, as instituições europeias perceberam o erro e pela prática o próprio BCE o admitiu. O BCE poderia ter comprado os títulos portugueses, como fez poucos meses depois com a Itália e a Espanha, em igual situação, liderando uma intervenção que evitou o resgate em perspectiva. O resgate de Portugal mostra, assim, o erro cometido pela UE e como as perspectivas de cenários futuros sugeridas pelas agências de notação financeira e postas em prática pelas instituições políticas e bancárias da União Europeia minaram a recuperação económica e a soberania política nacional.
O resgate de Portugal também mostra como a esfera política da União Europeia sucumbiu aos mercados financeiros desregulamentados. Mostra como o regresso da predominância da política sobre a finança parece cada vez mais difícil de alcançar, dentro do actual cenário.
É por tudo o que, atrás, foi exposto que o resgate tem de ser resgatado sob pena de todos sucumbirmos neste continente à impreparação que levou ao erro e à forma errada de raciocinar institucionalmente e que os últimos 4 anos demonstram ser inadaptada.
Não parece mais ser possível ninguém querer admitir erros e portanto preferir continuar em modo resgate, auto-sequestrando-nos pelas próprias instituições que não se reformam, nem se deixam revolucionar por via da inovação que ainda resta dentro delas, ou pela que se está a formar nas redes e nas praças públicas, à procura de caminhos para a supremacia da política.
Pode-se sempre argumentar que tudo isto não corresponde à realidade, que esta análise está errada, que tudo corre como devia correr e que as pessoas e as instituições reflectem isso. Eu contra-argumentaria que as instituições na Europa se encontram num estado de nervosismo intermitente, ora acham que tudo está a ir para o melhor, ora se sentem à beira do colapso quando uma qualquer variável política, económica ou social não segue o caminho expectável –pode ser o resultado de uma eleição, um comportamento dos mercados, um protesto mais veemente, uma actuação de um país externo, uma flutuação de uma moeda.
E as pessoas o que pensam disto tudo? Acreditando nos dados do último Eurobarómetro (e eu acredito na veracidade científica dos mesmos tal como o Eurostat e a Comissão Europeia acreditam) o que a seguir se descreve é a Europa e o Portugal onde hoje nos movimentamos - e o cenário não é agradável.
No final do ano passado, 80% dos cidadãos da União Europeia não confiavam nos partidos políticos e só33% confiava na União Europeia. Quanto à confiança na Comissão Europeia só40% dos cidadãos europeus manifestava confiança nela e, em média, na Europa (com excepção da Suécia, Finlândia e Luxemburgo) não há nenhum governo em que mais do que metade dos cidadãos confie –na realidade a média Europeia de confiança nos governos está em 27% dos cidadãos e em Portugal é de 22%. Por sua vez, o Banco Central Europeu tem apenas a confiança de 37% dos Europeus (na Alemanha 52% não confiam no BCE, um valor só superado pela desconfiança dos Espanhóis, Irlandeses ou Gregos).
Ao mesmo tempo 75% dos cidadãos da União classifica a situação económica da Europa como má ou muito má e 62% acha que o pior para o emprego está ainda para vir (variando entre os 59% da Alemanha, os 68% da França ou os 79% de Portugal) e quanto à avaliação da capacidade das actuais politicas em acção estarem no bom caminho, para nos fazer sair da crise, apenas 41% da população dos 27 países manifesta uma opinião positiva.
Se pensarmos que a Democracia é constituída a partir da assumpção de que "Eu" sou soberano e que delego temporariamente a minha soberania nos meus representantes, o TOP dos países onde mais de 50% dos cidadãos acha que "a sua voz não conta no seu país" - e que portanto onde delegar não vale a pena - leva-nos à seguinte conclusão sobre a zona euro: em todos os países com resgate informal e formal (à excepção da Irlanda onde só48% acha que não tem voz) mais de metade da população não acredita que seja ouvido pelos decisores políticos.
Na Europa há apenas 49% de cidadãos que se encontram satisfeitos com a democracia que têm, o que quer dizer que a sociedade europeia está dividida exactamente ao meio, polarizada entre duas visões (e tal varia entre os 70% de Alemães satisfeitos e os insatisfeitos que, por exemplo, são 74% dos Portugueses, 72% dos Italianos ou 66% dos Espanhóis).
Mas há também boas notícias, os cidadãos europeus parecem saber que caminho seguir para sair da crise. Pois 89% dos cidadãos está em acordo com a necessidade de introduzir mudanças, só que esse caminho parece não estar a ser praticado pelos governos e pela União. Senão vejamos, 90% dos cidadãos acha que os Estados devem trabalhar em conjunto, 81% acham que o défice público e a dívida devem ser reduzidos mas que, para a melhoria das economias europeias, se deve em primeiro lugar dar prioridade à melhoria da educação e formação profissional, facilitar a criação de empresas, aumentar a investigação científica e facilitar o crédito às empresas.
Os cidadãos da zona Euro apoiam a criação de Eurobonds na União Europeia, sendo a Bélgica o país mais a favor e a Alemanha o mais contra - os únicos países em que há mais de 50% de cidadãos contra são a Finlândia e a Alemanha, e o “não” ganha apenas com 47% na Áustria e na Estónia. Entre taxar as operações financeiras e taxar os lucros dos bancos, os cidadãos escolhem esta última com 81% de aprovação.
Se fosse pedido aos cidadãos para desenharem cinco políticas económicas para sairmos da crise eles responderiam pela seguinte ordem: modernização do mercado de emprego (81%); economia verde (74%); ajudas à indústria (72%); melhoria da qualidade do sistema de ensino superior (71%) e aumento das verbas de investigação científica (63%).
Por isso, o repto a todos nós (mesmo assumindo o perigo da análise) é assumir que as instituições que herdámos já não funcionam, pois só assim a crise pode ser ultrapassada.
As pessoas na Europa sabem-no, as populações dos países em resgate informal e formal sabem-no, as pessoas nas instituições de governo e financeiras sabem-no. O modelo está esgotado e precisa de ser refeito e isso só pode ser realizado com pessoas que o assumam, que conheçam porque falhou e que estejam dispostos a criar os seus futuros e não por quem se sinta mais confortável com o regresso ao passado, porque isso não vai acontecer.
O primeiro passo é mesmo resgatar o resgate, para se poder resgatar a economia e a política e agindo já para que tal possa ainda ser feito em democracia na Europa.
domingo, 17 de março de 2013
“A Charrua do Bem”
“A Charrua do Bem”
Sim! O que é preciso
é uma mudança, e estou em crer que um novo regime nunca será o mal, mas para
isso teremos que derrubar
os marcos fronteiriços, criando novas morais, abater as antigas crenças que esta democracia incutiu no subconsciente
do povo que estes democratas, eram eleitos, e são eleitos para O servir, e para
O proteger! Porque este presente, vem do antigo que nunca foi bom (desde 1974)!
E porque todos os terrenos acabam por se esgotar e este tipo de democracia também,
é preciso que “A Charrua do Mal” aí volte, o que neste caso é “A Charrua do
Bem”, porque vai revolver todo o lamaçal a que todos os Portugueses estiveram (estão)
sujeitos.
“só
o antigo é o bem!?”, a “«maldade» que se encontra em todos os professores do novo”, pós 25 de Abril!
A Charrua do Mal
Foram
os espíritos fortes e os espíritos malignos, os mais fortes e os mais malignos,
que obrigaram a natureza a fazer mais progressos: reacenderam constantemente as
paixões que adormecidas - todas as sociedades policiadas as adormecem -,
despertaram constantemente o espírito de comparação e de contradição, o gosto
pelo novo, pelo arriscado, pelo inexperimentado; obrigaram o homem a opor
incessantemente as opiniões às opiniões, os ideais aos ideais. As mais das
vezes pelas armas, derrubando os marcos fronteiriços, violando as crenças, mas
fundando também novas religiões, criando novas morais! Esta «maldade» que se
encontra em todos os professores do novo, em todos os pregadores de coisas novas, é a mesma «maldade» que
desacredita o conquistador, se bem que ela se exprime mais subtilmente e não
mobilize imediatamente o músculo; - o que faz de resto com que desacredite com
menos força! - O novo, de qualquer maneira, é o mal, pois é aquilo que quer
conquistar, derrubar os marcos fronteiriços, abater as antigas crenças; só o
antigo é o bem! Os homens de bem em todas as épocas, são aqueles que implantam
profundamente as velhas ideias para lhes dar fruto, são os cultivadores do
espírito. Mas todos os terrenos acabam por se esgotar, é preciso sempre que a
charrua do mal aí volte.
Friedrich Wilhelm Nietzsche , in 'A Gaia Ciência' Tema(s): Mal Mudança
Friedrich Wilhelm Nietzsche , in 'A Gaia Ciência' Tema(s): Mal Mudança
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